quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Prole para que te quero!

Querer parar o tempo é algo que nem anseio, pois embora tenha consciência de que um dia sentirei saudades dos pesinhos e mãos rechonchudas, palavras ditas de modo engraçado e risadas autênticas, a curiosidade de saber como será o desenvolvimento e a transformação que minhas três filhas terão ao longo dos vários estágios da vida é grande também. Talvez , como quando pintamos um quadro, temos ansiedade em ver no que vai dar, como ele vai ficar quando ficar “pronto”. Quando é que os filhos ficam “prontos” aos olhos de seus pais? Será que esse dia chega, em que se repousam os pincéis e conseguimos finalmente somente observar sem intervir? Veremos ...
De qualquer modo , mesmo assim,  gostaria de ter algum instrumento que me permitisse “congelar”(frame)  alguns momentos... mas de forma tal que eu pudesse voltar a revivê-los e facilmente reativar a memória. Gostaria de voltar a ouvir os sons, sentir as sensações, inalar os aromas, quase tocar a mesma barriga que se contorce de cócegas ...suave ao toque das pontas dos meus dedos firmes de mãe de quase quarenta anos...ao som estridente de um grito seguido de uma longa e quase sofrida gargalhada.
Pois é por este motivo que me sento a escrever agora, e em alguns momentos de minha vida já o fiz antes também. Na minha viagem com Mario para a Itália, criamos o compromisso de escrever nossos pensamentos ao final de cada dia e o resultado, um livro de páginas recheadas de contos manuscritos e pequenos souvenirs autênticos colados aqui e ali, facilmente nos transporta para aqueles dias que não queremos esquecer, ou melhor dito, lembramos de propósito.
Carolina e Beatriz dormem a “siesta”...uma em minha cama, a outra com meu peito de chupeta enquanto retorno a escrever sobre elas.  Minha rotina é assim, cheia de interrupções e escrever um texto longo sem interrupções no momento significaria começar, e terminar, na calada da noite somente quando todas as três meninas e o meu rei estivessem dormindo.
Acabo de colocar a Beatriz no berço...
Carolina começou a freqüentar o KITA (escolinha) há mais de uma semana agora. Sinto que está mais tranqüila, finalmente pode ter uma rotina bem estabelecida. Hoje consegui com que ela não dormisse no carro enquanto voltávamos para casa. Ela veio comendo o pão que fizeram na escola enquanto eu tentava puxar conversa perguntando sobre como havia sido o seu dia. Ao chegarmos em casa, pediu para dirigir o carro. Ela escala entre um assento da frente e o outro e senta-se no meu lugar de motorista para brincar que está dirigindo, e eu tenho que sentar no lugar dela atrás. Beatriz enquanto isso dorme. Quando tiro a Carolina do carro, lhe digo para atravessar a rua rapidamente pois não vem carros e ela atravessa e me espera do outro lado (em outros dias ela já sai andando em direção da entrada traseira para o nosso prédio, mas hoje paramos um bocadinho mais longe e ela obedeceu.)
Com a Beatriz , Carolina é muito atenciosa. Hoje de manhã repetia à irmã as palavras que nós dizemos sempre a ela “oi Beatriz! Como vai? Dormiu bem?” a chama de fofinha, gordinha...enquanto faz “tuco, tuco” em sua perna roliça (tuco tuco= enquanto repete a expressão tuco, tuco com os dentes bem acirrados, abre e fecha a mão freneticamente em forma de pseudo-carinho).
Carolina adora dançar e cantar. Em nossa sala do meio, ainda sem mobília, rodopia e tem uma expressão corporal de dar inveja a muitas bailarinas contemporâneas. E Beatriz demonstra que adora observar a irmã enquanto esta rodopia com seu vestido de branca-de-neve, dando gritinhos de satisfação.
Beatriz sorri facilmente...com a boca e com seus olhos pequenos e vivos. Quando está séria, está realmente séria , parece que está encarando com responsabilidade o que faz...viver! mas prontamente sorri a qualquer estímulo...doce é a sua nota musical.
Isabella hoje chegará mais tarde da escola pois terá a sua primeira aula/treino de vôlei. Acho uma delícia quando ouço o trinco da porta e sei que é ela quem está chegando em casa. Volta sozinha da escola de bicicleta ou trem. Meu coração se enche de orgulho dela, e de felicidade POR ela ...tenho certeza de que ela adora esta sensação de liberdade de poder ir e vir...como eu quando peguei o carro por primeira vez em São Paulo..aos dezoito anos de idade...ela só tem onze.
Este ano será recheado de descobertas para a Isa na escola. Eu pedi a ela que me deixasse guiá-la um pouco mais, acompanhá-la nos estudos já que nesta escola muitas crianças tem uma maior fluência no inglês. Sim, parece estranho, eu também estranhei...ela não gosta muito que a ajude. É um estranhamento só...para mim e para ela que sempre foi muito independente. E eu me pergunto se não devo deixar como está, agradecer novamente por ela ser assim independente e não deixar que as minhas expectativas de mãe-professora interfiram. Quando peço para arrumar o cabelo dela (por puro prazer...relembrar meus tempos de aprendiz de cabeleireira quando era criança, fazer-lhe um agrado!!) Muitas vezes reclama e diz em palavras bem claras que o cabelo dela não precisa ficar “perfeito” do jeito que eu quero. Em outras palavras, olha que mãe bruxa : EU QUERO QUE O CABELO DA MINHA FILHA FIQUE PER-FEI-TOOOOOOOOOO !!  Suspeito, com tristeza no coração, de que ela sente que será amada somente se for perfeita...pobre criatura, não entende nada sobre amor de mãe! (ou pelo menos desta mãe aqui, sua mãe). Digo que minhas filhas são tudo que sempre quisemos ter, sem tirar nem pôr. Mesmo se tivesse dez e cada qual tivesse lá suas características mais ou menos bizarras. Amamos nossos filhos com chulé, budum, cera na orelha...mas confesso que fico apreensiva se alguém do mundo externo vai se incomodar com algo...pois sou capaz de nemeuseiatéondeiriaminhainsanidade a fim de defender minha prole.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

As mil faces de Carolina e suas fantasias...

Pequena Baronesa










Carolina é uma criança muito intensa, viva...Numa noite, enquanto o pai dormia, nós meninas nos deliciamos vestindo a Carolina com várias fantasias..e ela entrou na brincadeira, ehm...nós entramos! Uma como se brincasse de vestir uma boneca, outra realizando-se em fazer penteados, a outra na máquina de fotos...

VIAGEM PARA UM NOVO MUNDO

Eis que finalmente chegou o dia. A espera tinha sido longa e nada fácil . Vivemos meses de “stand by” tudo ao aguardo deste momento, de nossa ida definitiva para outro país. Beatriz coitadinha, nasceu no meio de toda essa confusão. Mesmo com somente um mês e meio , já tinha nos surpreendido com uma doença que a levou a ser internada por um bocado de dias num dos vaivens do pai a São Paulo. Nosso estado de espírito era de quem embarcaria para uma grande aventura, agora não tem mais volta...e ufa! Acabou a espera, vamos lá que eu quero ver o que nos aguarda!! Pegar avião para nós não era novidade, nem viajar com crianças...mas com uma criança de dois anos e outra de um mês ... E mais a bolsa, a outra bolsa, o carrinho a ser despachado, os casacos... Posso dizer que a viajem foi "moleza", todas as crianças dormiram e conseguimos de algum modo comer como qualquer outro passageiro durante o vôo. Até mesmo a espera no aeroporto em Paris pela nossa conexão foi tranqüila, nosso sobe e desce aqui e ali com carrinho, bolsa grande, bolsa média, o carrinho, o papagaio...ah, não! Por sorte não trazíamos papagaio!!
Do avião se viam casinhas escondidas entre uma árvore e outra..num vale de árvores . Pousamos em Hamburgo. Nosso pensamento : Missão cumprida, chegamos! Mal sabíamos do que nos aguardava para finalizar o dia! Ao pousarmos já tínhamos um plano (arquitetado obviamente pelo especialista em logística). Mário se direcionou ao guichê de aluguel de carro (obs: deveria ser um carro “bem grande” para que coubessem todas as malas) enquanto eu , acompanhada de Beatriz no carrinho , fui ao supermercado dentro do aeroporto comprar alguns mantimentos para termos alguma coisa em casa para forrar o estômago. Entre uma indecisão e outra do que comprar finalmente consegui passar pelo caixa e empurrar o carrinho com algumas sacolas penduradas para ir ao encontro de Isa, Ana e Carolina que cuidavam dos nossos restantes 12 volumes (isso mesmo, contando com o carrinho eram 13!) . Neste momento Carolina já demonstrava sinais claros de exaustão e fome e resolveu acionar o sinal de alerta (vocês bem podem imaginar como uma criança faminta e cansada demonstra este desconforto, não é mesmo?) Já com a chave do carro na mão e sacolas de compras cheias (mais os 13 volumes) resolvemos comprar um sanduíche para cada para levar e comer com calma quando chegássemos . Carolina não podia esperar e começou a comer pedaços arrancados do sanduíche ali mesmo , no trajeto até o carro, que se encontrava no andar tal seguindo em frente, pegando um elevador, andando por um corredor ao ar livre e no frio, outro elevador, aperta o botão , sobe, empurra...ah! Achamos o carro! Nem tivemos tempo para ver quem tinha a melhor idéia...O vento gelado e a urgência de chegar em casa não permitia que nos comunicássemos para buscar uma solução: Nem metade das malas couberam no carro! Mario , Isa e Carolina faminta entraram no carro juntamente com as malas que nele couberam. Eu, Ana e Beatriz ficamos de fora com o restante das malas. Teríamos que buscar um taxi para chegar em casa, ah...e no caminho passar pela saída do estacionamento de carros alugados para mostrar o caminho para Mario pois nosso GPS estava bem guardado demais num dos 13 volumes. Pois bem, tarefa fácil! Empurra o carrinho de bebê , com o bebê dentro, mais o outro carrinho com as malas- elevador -anda no frio- cuidado! O bebe está soluçando de frio!! Cobre o bebê- anda-empurra- qual o caminho? - este aqui..nós viemos por aqui...TAXI - pronto! É só dizer “TAXI” ah, palavra mágica, internacionalmente conhecida... O bebê não pode subir no táxi sem a cadeirinha de bebê minha senhora...e agora? Fomos falar com a moça do guichê de informações dentro do aeroporto. Muito simpática. Se esforçou e ligou para a empresa de táxi para pedir um taxi com carrinho de bebê. “Sinto informar minha senhora, em toda a cidade de Hamburgo, não existe nenhum taxi com carrinho de bebê” O que faço? Hmmmm...pegue o metrô!
Numa segunda tentativa desesperada de conseguir ENTRAR num taxi qualquer, desta vez, o responsável pela subida de passageiros nos táxis que estava de plantão aceitou um bebê dentro do carro (vai entender!)Não perguntamos , é claro, por que esta diversidade de opinião . Não tínhamos tempo, e principalmente não tínhamos conhecimento algum de alemão para poder expressar qualquer vontade. Não sei como consegui explicar que eu iria num táxi com algumas malas e a Beatriz (o “volume-problema”!) enquanto Ana iria num outro taxi, mas para o mesmo endereço. Como se estivéssemos apostando uma corrida, entramos rapidamente nos taxis. O meu taxista era um velho rabugento de mal com a vida . Tão impaciente, que não me deixou tentar explicar que meu marido me aguardava na saída do estacionamento de carros alugados para saber o caminho. Tentei, mas foi inútil. Ele me disse, numa mistura de alemão e inglês mal-humorado , que não me entendia mas que me levaria ao lugar que eu tinha indicado apontando na correria com o dedo, o cartão afixado numa das malas. Por sorte, nas malas que a Ana carregava, também constava o endereço e ela conseguiu chegar. Passou este pensamento, entre outros trezentos mil que bombardeavam meus neurônios : e se ela não conseguir chegar? Como vamos encontrá-La? Como é que ela poderia nos encontrar se sequer celular tínhamos?
Pouquíssimos minutos de aflição se passaram no táxi e em seguida um grande alívio. O taxista achou facilmente o endereço, Mário já estava lá com Isa e Carolina...e Ana chegou minutos depois, com um sorriso de quem estava já se divertindo muito com toda a aventura!!!
Depois de tudo isso, levar os 13 volumes três andares acima sem elevador parecia uma caminhada no parque...bom, pergunte às nossas pernas...



* Na foto: Carolina "relaxando" no saguão de espera...

terça-feira, 24 de maio de 2011

It's all about the rhythm...

Estamos em Hamburgo há quase um mês agora. Já vivenciamos ir ao supermercado, andar de metrô, andar debaixo de chuva sem guarda-chuva, atravessar a rua com tranqüilidade na faixa de pedestres com a certeza absoluta de que nenhum carro virá em velocidade alta a ponto de não conseguir frear, e nem que o motorista estará afobado e provavelmente atrasado, para não conseguir parar o carro. Já fomos a vários parques com as meninas. Mesmo em dias de mudança, reservávamos algumas horas para caminhar até o parque debaixo de um sol tímido porém confortável, que em dias se tornou até quente, para ver a Carolina e a Isa brincarem no escorrega, balança, e até mesmo numa tirolesa. Ficamos surpresas em ver que aos Domingos, vários pais (quero dizer não mães) estavam nos parques com seus filhos...em países machistas somente mães se ocupam de levar os filhos ao parque, principalmente sem a ajuda de ninguém. Notamos também que todas as crianças usam algo na cabeça. Gorros de lã no frio, bandanas no calor, bonés... Ficava assim bem fácil distinguir as “nossas” do resto por causa dos cachos soltos ao ar, às vezes gélido, de Hamburgo.
O ritmo aqui é bem outro. Talvez isto seja a coisa mais marcante que já percebi até agora (fora, é claro , o quanto  a cidade é limpa e arborizada). Não podemos afirmar que as pessoas aqui sejam melhores seres humanos, isto seria uma bobagem , ingenuidade, preconceito!  Mas sim, podemos notar que, com mais facilidade, sorriem, agradecem, esperam a vez no farol, na fila, no convívio de cada dia...existe uma maior disponibilidade. A vizinha já tocou a campainha duas vezes...interessando-se em ajudar. A Isa foi à escola hoje pela segunda vez. Quando cheguei para buscá-la, a mãe de uma colega, recém nova amiga, se dispôs a levá-la para brincar...e após duas horas a devolveram em casa .
Alguns hábitos causaram-nos estranheza, mas já estamos nos apropriando deles. Quando chegamos em casa, tiramos os sapatos e transitamos descalços, de meia ou chinelos. Isabella após o primeiro dia na escola disse “Mãe, à partir de hoje não me compre mais meias brancas, por favor” achei esquisito...”Por que?” perguntei com tremenda curiosidade. “Na escola eu era a única boba ali de tênis o dia todo. A maioria dos alunos tira os sapatos e andam ali dentro somente de meia”.
Quando me levaram a conhecer a escola, passei pela sala dos menores (de 3 anos de idade). Em pequenos quadrados estavam seus sapatos “sujos” de fora, dentro da classe usam outros confortáveis e quentinhos, e no corredor havia uma fileira de galochas e outra fileira de capas de chuva. “As crianças saem para brincar duas vezes ao dia, faça sol ou faça chuva”, foi o que ouvi.
Gostaria de poder fazer um “cópia-cola” do silencio daqui para vocês ouvirem... ou não ouvirem!! Andar entre tantas árvores  com o as folhas cintilando ao sol...perceber o quanto a copa da árvore pode te proteger da chuva, ter o olhar suficientemente tranqüilo para poder perceber tudo isso, e além disto os pássaros, as nuvens, o olhar do velhinho que passa , a velocidade de dar inveja da senhora que , com o exercício constante, anda mais veloz...
São 23.03 hrs. Em casa todas e mais o meu “rei” dorme...Eu também, neste ritmo de água que passa pelo riacho, vou dormir. Que todos aí no Brasil também durmam em paz...um abraço forte , forte em pensamento.