Querer parar o tempo é algo que nem anseio, pois embora tenha consciência de que um dia sentirei saudades dos pesinhos e mãos rechonchudas, palavras ditas de modo engraçado e risadas autênticas, a curiosidade de saber como será o desenvolvimento e a transformação que minhas três filhas terão ao longo dos vários estágios da vida é grande também. Talvez , como quando pintamos um quadro, temos ansiedade em ver no que vai dar, como ele vai ficar quando ficar “pronto”. Quando é que os filhos ficam “prontos” aos olhos de seus pais? Será que esse dia chega, em que se repousam os pincéis e conseguimos finalmente somente observar sem intervir? Veremos ...
De qualquer modo , mesmo assim, gostaria de ter algum instrumento que me permitisse “congelar”(frame) alguns momentos... mas de forma tal que eu pudesse voltar a revivê-los e facilmente reativar a memória. Gostaria de voltar a ouvir os sons, sentir as sensações, inalar os aromas, quase tocar a mesma barriga que se contorce de cócegas ...suave ao toque das pontas dos meus dedos firmes de mãe de quase quarenta anos...ao som estridente de um grito seguido de uma longa e quase sofrida gargalhada.
Pois é por este motivo que me sento a escrever agora, e em alguns momentos de minha vida já o fiz antes também. Na minha viagem com Mario para a Itália, criamos o compromisso de escrever nossos pensamentos ao final de cada dia e o resultado, um livro de páginas recheadas de contos manuscritos e pequenos souvenirs autênticos colados aqui e ali, facilmente nos transporta para aqueles dias que não queremos esquecer, ou melhor dito, lembramos de propósito.
Carolina e Beatriz dormem a “siesta”...uma em minha cama, a outra com meu peito de chupeta enquanto retorno a escrever sobre elas. Minha rotina é assim, cheia de interrupções e escrever um texto longo sem interrupções no momento significaria começar, e terminar, na calada da noite somente quando todas as três meninas e o meu rei estivessem dormindo.
Acabo de colocar a Beatriz no berço...
Carolina começou a freqüentar o KITA (escolinha) há mais de uma semana agora. Sinto que está mais tranqüila, finalmente pode ter uma rotina bem estabelecida. Hoje consegui com que ela não dormisse no carro enquanto voltávamos para casa. Ela veio comendo o pão que fizeram na escola enquanto eu tentava puxar conversa perguntando sobre como havia sido o seu dia. Ao chegarmos em casa, pediu para dirigir o carro. Ela escala entre um assento da frente e o outro e senta-se no meu lugar de motorista para brincar que está dirigindo, e eu tenho que sentar no lugar dela atrás. Beatriz enquanto isso dorme. Quando tiro a Carolina do carro, lhe digo para atravessar a rua rapidamente pois não vem carros e ela atravessa e me espera do outro lado (em outros dias ela já sai andando em direção da entrada traseira para o nosso prédio, mas hoje paramos um bocadinho mais longe e ela obedeceu.)
Com a Beatriz , Carolina é muito atenciosa. Hoje de manhã repetia à irmã as palavras que nós dizemos sempre a ela “oi Beatriz! Como vai? Dormiu bem?” a chama de fofinha, gordinha...enquanto faz “tuco, tuco” em sua perna roliça (tuco tuco= enquanto repete a expressão tuco, tuco com os dentes bem acirrados, abre e fecha a mão freneticamente em forma de pseudo-carinho).
Carolina adora dançar e cantar. Em nossa sala do meio, ainda sem mobília, rodopia e tem uma expressão corporal de dar inveja a muitas bailarinas contemporâneas. E Beatriz demonstra que adora observar a irmã enquanto esta rodopia com seu vestido de branca-de-neve, dando gritinhos de satisfação.
Beatriz sorri facilmente...com a boca e com seus olhos pequenos e vivos. Quando está séria, está realmente séria , parece que está encarando com responsabilidade o que faz...viver! mas prontamente sorri a qualquer estímulo...doce é a sua nota musical.
Isabella hoje chegará mais tarde da escola pois terá a sua primeira aula/treino de vôlei. Acho uma delícia quando ouço o trinco da porta e sei que é ela quem está chegando em casa. Volta sozinha da escola de bicicleta ou trem. Meu coração se enche de orgulho dela, e de felicidade POR ela ...tenho certeza de que ela adora esta sensação de liberdade de poder ir e vir...como eu quando peguei o carro por primeira vez em São Paulo..aos dezoito anos de idade...ela só tem onze.
Este ano será recheado de descobertas para a Isa na escola. Eu pedi a ela que me deixasse guiá-la um pouco mais, acompanhá-la nos estudos já que nesta escola muitas crianças tem uma maior fluência no inglês. Sim, parece estranho, eu também estranhei...ela não gosta muito que a ajude. É um estranhamento só...para mim e para ela que sempre foi muito independente. E eu me pergunto se não devo deixar como está, agradecer novamente por ela ser assim independente e não deixar que as minhas expectativas de mãe-professora interfiram. Quando peço para arrumar o cabelo dela (por puro prazer...relembrar meus tempos de aprendiz de cabeleireira quando era criança, fazer-lhe um agrado!!) Muitas vezes reclama e diz em palavras bem claras que o cabelo dela não precisa ficar “perfeito” do jeito que eu quero. Em outras palavras, olha que mãe bruxa : EU QUERO QUE O CABELO DA MINHA FILHA FIQUE PER-FEI-TOOOOOOOOOO !! Suspeito, com tristeza no coração, de que ela sente que será amada somente se for perfeita...pobre criatura, não entende nada sobre amor de mãe! (ou pelo menos desta mãe aqui, sua mãe). Digo que minhas filhas são tudo que sempre quisemos ter, sem tirar nem pôr. Mesmo se tivesse dez e cada qual tivesse lá suas características mais ou menos bizarras. Amamos nossos filhos com chulé, budum, cera na orelha...mas confesso que fico apreensiva se alguém do mundo externo vai se incomodar com algo...pois sou capaz de nemeuseiatéondeiriaminhainsanidade a fim de defender minha prole.